Moradores do Bom Fim reclamam da falta de auxílio após perderem suas casas na enchente

Cadastros feitos no Cras dão erro, além disso, relatam que não recebem aluguel social e nenhuma outra ajuda
Foto: Gabriela Hautrive/Rádio Independente

Conforme reportagem da Rádio Independente, as cerca de 40 famílias que residiam na Rua Afonso Dullius e nas proximidades, no Bairro Bom Fim, em Cruzeiro do Sul, perderam suas casas na enchente de maio. Na maioria das residências, não sobrou nada, apenas os escombros. O local fica na antiga entrada do Clube Náutico Delta. Desde o ocorrido, quando as forças das águas do Arroio Sampaio e do Rio Taquari invadiram as residências, nenhuma assistência ou auxílio foi dada aos moradores, segundo eles.

Há quase cinco meses do ocorrido, os cadastros feitos no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) dão erro pelo fato da rua não existir no mapa, conforme os moradores. Além disso, relatam que não recebem aluguel social por conta da renda e também não receberam nenhuma outra ajuda, seja dos governos municipal, estadual ou federal, se tratando de novas residências ou recursos em dinheiro.

Uma das moradoras mais recentes da rua, Natália Marques, estava há 8 anos residindo no local. Ela conta que saiu de Porto Alegre e escolheu Cruzeiro do Sul para viver, mas hoje se sente injustiçada. “Perdi minha casa, tenho 62 anos, sou aposentada pelo salário mínimo e eu não tenho aluguel social porque eu não me encaixo nesse valor. Não me encaixo no valor, que é de R$ 700. Eu gostaria muito de saber como que eu vou sobreviver pagando R$ 950, gastando R$ 300 em medicamentos e não ter uma ajuda da prefeitura?”, questiona.

Outro questionamento da Natália é sobre o endereço que não consta no mapa. “A minha casa que eu perdi, que todos veem que não existe mais e eu não tenho onde morar, pois não está no mapa. Eu digo assim: duas pessoas que eu conheço, meus vizinhos, conseguiram ganhar. Por que nós todos não conseguimos ganhar? Não conseguimos ainda, porque tanta burocracia, porque tanta injustiça. Isso está me abalando emocionalmente, eu estou ficando doente por causa dessa situação”, comenta.

“A gente se sente muito triste, desamparados”

A moradora Gladis Maria Dullius da Rocha, de 51 anos, morou a vida toda na localidade e viu seus pais construírem suas vidas no local também. “A gente se sente muito triste, desamparados, porque a vida toda que a gente mora aqui e a gente se sente um nada, porque a gente não tem direito a nada”, ressalta. Segundo Gladis, todos os moradores tinham uma boa relação e o local era muito bom para viver. “Era o nosso paraíso, uma vizinhança maravilhosa, todo mundo se dando, todo mundo unido sempre, e agora a gente se encontra numa situação de ter que pagar aluguel e depender de outras pessoas”, comenta.

Além dela, residem juntos seu esposo, uma filha de 16 anos e a mãe, de 84 anos. “A gente sabe que ganhar uma casa não é do dia para a noite. Ganhar um terreno também, muito menos. Mas pelo menos o aluguel social, então, pelo menos isso.”

Cadastros que não dão certo

Uma das principais reivindicações é sobre os cadastros que não dão certo, segundo reforça outra moradora, Emilin Wiebbelling, de 20 anos. “A gente vai atrás, os cadastros não dão certo. A nossa rua é para estar em área de arraste, mas quando os resultados vêm, falam que não está. Então, a gente precisa desse suporte. Está todo mundo desamparado. Eu, desde que me entendo por gente, 20 anos eu tenho, eu vivi aqui, conheço cada casa, cada pessoa. Eu já tive um momento feliz, e outros nem tanto, porque vizinhos também são para se apoiar. Por isso eu fui atrás, porque a gente não merece esse descaso”, comenta.

A avó de Emilin recebeu uma mensagem por parte da Defensoria Pública da União dizendo que o cadastro estava incorreto. Depois disso, foram feitas várias outras tentativas de contato, porém, sem respostas.

O que diz a prefeitura

A reportagem fez contato com a Prefeitura de Cruzeiro do Sul, através da secretária de Assistência Social e Habitação, Elisângela Becker. Conforme ela, a área (rua e bairro) são reconhecidos no mapa e os cadastros foram enviados pelo Cras conforme cada família declarou. Porém, segundo ela, quem aprova é o sistema do governo federal, por conta do Auxílio Reconstrução. “Mas vamos buscar aprofundar as informações e ver o que pode estar gerando inconsistências para as famílias”, relata.

Já sobre o aluguel social, o problema são os critérios de acesso ao benefício. “Por exemplo, o fator renda renda per capita e teria que ver caso a caso”, reforça.

Além disso, a secretária informou que os técnicos do Cras estão informando as famílias sobre qual é o fator de elegibilidade, quando dá erro nos cadastros.

 

Texto: Gabriela Hautrive/Rádio Independente

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